domingo, 30 de maio de 2010

EU VI UMA ROSA


Eu vi uma rosa
-Uma rosa branca-
Sozinha no galho.
No galho? sozinha
No jardim, na rua.
Sozinha no mundo

Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a  natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.

Tudo isso era excesso.


A graça essencial, 
Mistério inefável
-Sobrenatural-
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa 
Sozinha no galho
Sozinha no tempo.

Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão longe da glória
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
 As palavras santas
De outra anunciação.

                                                 Manuel Bandeira