Eu vi uma rosa
-Uma rosa branca-
Sozinha no galho.
No galho? sozinha
No jardim, na rua.
Sozinha no mundo
Em torno, no entanto,
Ao sol de meio-dia,
Toda a natureza
Em formas e cores
E sons esplendia.
Tudo isso era excesso.
A graça essencial,
Mistério inefável
-Sobrenatural-
Da vida e do mundo,
Estava ali na rosa
Sozinha no galho
Sozinha no tempo.
Tão pura e modesta,
Tão perto do chão,
Tão longe da glória
Da mística altura,
Dir-se-ia que ouvisse
Do arcanjo invisível
As palavras santas
De outra anunciação.
Manuel Bandeira